Na noite de estreia do Guardei No Armário O Talk Show Ao Vivo no Sesc Consolação, eu vivi algo que palavras quase não dão conta de traduzir. Entrei naquele palco com o coração acelerado, não apenas pela responsabilidade de começar um novo ciclo do meu projeto, mas pela consciência de que aquele espaço seria uma celebração viva da nossa existência, das nossas dores e da nossa beleza.
Cheguei cedo, como quem quer cuidar de cada detalhe com carinho. As plantas foram dispostas uma a uma, as luzes ajustadas até que o ambiente se tornasse um abraço. E meus pais foram na estreia e deixaram aquele momento ainda mais especial. O Sesc Consolação estava vibrando. Era um daqueles dias em que a arte e a vida se confundem e, mesmo com o show de Tony Tornado acontecendo no outro palco, a nossa sala estava cheia de histórias, olhares e afetos prontos para se encontrarem.
Quando Érica Malunguinho entrou, senti imediatamente que algo grande estava para acontecer. Érica é artista, educadora, mestra em estética e história da arte, e foi a primeira mulher trans a ocupar uma cadeira na Assembleia Legislativa de São Paulo. Mas, acima de tudo, Érica é uma força ancestral em movimento. No palco, ela me olhou com a ternura de quem entende o poder da escuta e o peso de resistir.
Nossa conversa foi um encontro de mundos e memórias. Ela falou da infância, da educação, de como aprendeu com as crianças o valor de enxergar o mundo com curiosidade. E quando falou de sua mãe e do processo de transição, o teatro inteiro parou. Era como se cada pessoa ali tivesse sido atravessada por aquela emoção. Eu vi lágrimas, sorrisos, silêncios. E vi, sobretudo, presença. As pessoas estavam ali, inteiras. Sem celulares, sem distrações apenas compartilhando um momento de verdade.
Entre os relatos do público, teve o depoimento emocionante da mãe do Cadu e a fala potente de Michela sobre a militância e o cansaço. Foi uma noite em que a palavra virou corpo, e o corpo virou casa.
Ao final, fui tomado por uma sensação de gratidão profunda. O Sesc ficou feliz, a equipe estava emocionada, e eu… eu saí dali com a certeza de que o “Guardei No Armário Ao Vivo” é mais do que um talk show é um espaço de cura, memória e pertencimento. Agradeço a parceria com Mais Pretto que preparou um presente especial para as pessoas convidadas para serem entrevistadas, a Cintia criadora e estilista da Az Marias que me vestiu, ao Cadu com a maquiagem, a Mariana Alves pelo administrativo e organização, ao Wilfried Gbedo e toda equipe do Sesc por toda acolhida e dedicação.
E o melhor é saber que essa jornada está só começando. O próximo episódio será com João Silvério Trevisan, um dos grandes nomes da literatura e da militância LGBTQIAPN+ no Brasil. Escritor, roteirista e diretor de cinema, Trevisan é autor de obras fundamentais como Devassos no Paraíso, Em Nome do Desejo e Pai, Pai. Com ele, vamos conversar sobre o tema da velhice LGBT+, um assunto ainda tão pouco falado, mas cheio de sabedoria, resistência e amor.
Quero te fazer um convite: venha viver isso comigo. Traga sua história, sua escuta e sua curiosidade. O palco do Guardei No Armário Ao Vivo é nosso, é um espelho de tudo o que fomos e do que ainda podemos ser.
Nos vemos no próximo encontro.
Até lá assista ao novo episódio de entrevista de saída do armário no Guardei no Armário.