
Por Emanuel Araquan

Dez anos de Guardei no Armário. Dez anos construindo o maior acervo de histórias de saída do armário do mundo. E agora, na nova temporada, estar na direção desse projeto é um compromisso com a memória, com a resistência e com as narrativas que ainda tentam silenciar.
O primeiro episódio não poderia ser com outra pessoa: Vitor Martins. Psicóloga, mestra, empresária, palestrante e a quarta pessoa LGBT mais seguida no LinkedIn. Mas muito além dos títulos, Vitor carrega em si a potência de quem desafia as normas e ressignifica espaços. Seu relato é um mergulho em identidade, luta e reinvenção.

“Nenhuma afeminada sai do armário.” A frase ecoa forte. Porque para muitas pessoas trans e LGBTs afeminadas, o mundo já fez questão de apontá-las antes mesmo de entenderem quem são.
E a resposta para um mundo que a discriminava? Estudar. Se tornar referência. Passar em 14 vestibulares. Construir um legado. Mas não sem dor, não sem enfrentar violências cotidianas que tentam cristalizar identidades em caixas rígidas. “Gay, empoderade, gay afeminada, viada, queer, mulher trans”—categorias que foram se moldando ao longo do caminho, mas nunca limitando sua existência.
O Brasil continua sendo o país que mais mata pessoas trans no mundo. E ao mesmo tempo, há quem se surpreenda quando uma mulher trans negra ocupa espaços de liderança. São a menor fatia nesses cargos, não por falta de capacidade, mas por uma estrutura que ainda nega oportunidades e visibilidade.

Por isso, celebrar a existência de Vitor Martins é um ato político. Ocupar, narrar, reivindicar. Sua reafirmação no mundo abre portas para que outras pessoas trans, negras e LGBTs se enxerguem em novas possibilidades. Ela não precisou de pioneiras como referência, mas hoje é essa referência para tantas outras.
Na nova temporada de Guardei no Armário, seguimos resgatando histórias que não cabem nas normas, que desafiam o status quo e que são, acima de tudo, a prova de que estamos aqui para ficar. E para mudar tudo.
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